António Guimarães Ferreira ‘Visão Monocular’

Exposição de António Guimarães Ferreira de 31 de Maio a 9 de Junho 2019.

O corpo humano está equipado com visão binocular. Dois olhos captam uma imagem igual, que se funde no córtex visual. Se houver uma descoordenação e as imagens forem diferentes produzir-se-á desconforto. Este sistema implica viver com uma imagem de cada vez.

Existem na natureza casos de visão monocular. Os camaleões e alguns peixes e pássaros podem mover, girar e focar cada olho de forma independente permitindo que “vejam” (captem, interpretem e ajam em função de) dois objectos, simultaneamente. O seu cérebro tem a capacidade de lidar com ambas as imagens, que não estão totalmente dissociadas: um dos olhos tem sempre algum conhecimento do que o outro está a ver e a informação é cruzada e reunida, forçando uma ponderação.

Câmaras de videovigilância, endoscópios ou telemóveis são também olhos humanos, apesar de monoculares. Acumulam imagens gravadas e editáveis e o seu funcionamento e utilidade permanece ainda dependente de uma interpretação cerebral. A visão que estes olhos produzem permite uma sucessão de visões binoculares e monoculares que podem operar como extensões de indivíduos, de um grupo ou da sociedade em geral.

“Visão monocular” constitui-se como um corpo munido de vários olhos independentes e capaz de fundir/ponderar imagens diferentes. Possuidor de um córtex complexo, propõe uma forma de olhar para o mundo que aproveita os múltiplos pontos de percepção disponíveis para construir a partir da disparidade.